UPWIND COM BRUNO LOBO

  Relato por Bruno Lobo (redação e fotos) TRAVESSIA SíO LUíS – ATINS   Há uns 2 anos, já pensava em fazer essa aventura, mas diante da correria do dia a dia e competições, não encontrava uma data adequada para fazer. Então, surgiu a oportunidade de fazer nesse fim de semana (28/09) e alguns amigos estariam em Atins e poderia voltar com eles para São Luí­s.   Fiz esse trecho no ano passado com o Andre Penna, um cara que admiro e com certeza me inspirou para esse desafio, porém fizemos de downwind e em dois dias, dessa vez faria contra o vento e apenas em um dia. Sabia que não seria fácil e confesso que estava receoso de não conseguir, pois não sabia como meu corpo iria reagir diante de tantas horas de velejo em condições extremas.   (Preparação)   A preparação foi feita ao longo da semana que antecedeu a travessia, não tive muito tempo para planejar. Alguns amigos me ajudaram emprestando alguns materiais como o próprio kite, já que costumo usar kites foil e preferi fazer a travessia de kite tubular pela facilidade de pousar,  caso precisasse, e de funcionar como auto-resgate, me emprestaram também bolsa impermeável, gps, enfim, não seria possí­vel sem eles. Levei uma bolsa com biscoitos, pão, barras de cereal, 4 litros de água mais 2 litros no camelback, três facas, tesoura, já que há muitas redes no caminho, gps com rastreador. Fui preparado para passar um dia no deserto dos lençóis, caso não chegasse a tempo.   Enfim chegou o grande dia! Saí­ de São Luí­s no sábado, dia 28/09/2019, í s 09:30 da manhã, um pouco tarde devido ao rastreador ter dado problema e estava tentando solucionar, se não iria desistir da travessia. No limite de tempo que tinha estipulado, isso me deixou com uma tensão a mais, já que sabia que não tinha margem para parar muito, tinha que ser certeiro e andar no ritmo que havia planejado.   As condições estavam boas, vento de aproximadamente 20 knots, e resolvi usar o kite Ozone Edge V9 9m e minha prancha de competição.   Durante esse percurso até Atins, existem duas grandes baí­as de aproximadamente 20km, de São José de Ribamar e a Baí­a do Tubarão, dois trechos onde não se olha praticamente terra e você fica totalmente em alto mar com condições extremas de maré.   (A saí­da)   Antes de entrar na primeira baí­a, por volta de 40 km de velejo senti que não seria fácil e me questionei se conseguiria. Piorou! Pois logo após, bati em um banco de areia no meio da mar, um trecho cheio de armadilhas, rede de pesca, espinhais e bancos de areia, e tive um avaria na minha caixa de quilha, o mastro entrou na prancha e os parafusos ficaram sobressaltados logo onde eu coloco o pé de trás para fazer força na orça. Pensei em voltar e desistir, mas sabia que não teria outra oportunidade de fazer essa aventura tão cedo e decidi continuar e atravessar a primeira baí­a.   O parafuso estava incomodando muito, mas fui me adaptando aquela dor e desconforto, com certeza o ritmo caiu um pouco devido a esse problema. Meu plano era parar em Ilha de Santana, uma ilha que tem um grande farol e que fica entre as duas baí­as. Mas devido ao tempo, já era aproximadamente 1 hora da tarde e 110km de velejo, resolvi continuar sem parar e enfrentar direto a temida Baí­a do Tubarão rumo aos Lençóis Maranhenses.   (avaria no mastro e prancha)   Não parava de pensar na chegada, queira chegar! Era o que passava na minha cabeça a todo tempo; foi quando refleti e entendi que essa travessia é como a vida:   – “í s vezes pensamos tanto em algo que queremos, seja uma aprovação, uma viagem, um bem material, uma vitória, enfim, e esquecemos do processo, da trajetória, do dia a dia. Comecei a apreciar tudo em minha volta, as belezas do litoral, o quão frágil estava me sentindo no meio do mar, como uma gota d’água no oceano, com medo e sentido aquela dor no pé, assim é a vida! Muitas vezes vamos ter tropeços, vamos sentir dor, mas temos que continuar, aproveitando cada dia, cada momento, porque o mais importante não é chegar, não é o resultado, mas todo o processo e trabalho duro diário, isso faz valer a pena e fez valer cada segundo da travessia e da vida.”   (desfrutar a aventura, o caminho)   Voltando, foi um dos piores trechos em relação ao mar mexido. Ao me aproximar da costa, na praia de Travosa, uma praia conhecida pelas ondas grandes, senti que estava num liquidificador, a prancha estava totalmente instável e pensei que havia até quebrado a asa. Parei para verifcar e vi que realmente era devido a corrente daquela região que havia um encontro de rio com o mar, 20 km que pareceram uma eternidade.   Me senti cansado, a lombar estava fadigada e resolvi parar para me hidratar e comer já que a água do camelback havia acabado, foi a única parada da travessia. Coincidentemente, avistei três pescadores e pude trocar uma ideia que me motivou e deu forças para seguir, primeiro porque eles falaram que dali em diante o litoral favoreceria um pouco mais a orça e, segundo, porque eles falaram que eu não chegaria a tempo, já eram 14h15, isso me instigou ainda mais. Queria mostrar para eles, mesmo sabendo que talvez não os viria novamente, pelo menos não tão cedo, parei aproximadamente 10-15 min e segui novamente.   Tentei manter a constância e tentei acelerar o ritmo, já havia velejado 155km e faltavam em torno de 70km em linha reta, nos lençóis a proporção de orça estava de 1:3, 1 km entrava no mar e 3km progredia no litoral, não estava tão fácil quanto imaginava.   O tempo foi passando, o sol foi baixando e eu não sabia onde estava, se faltava muito ou pouco. Comecei a achar que não seria possí­vel, estava velejando km após km na esperança de que por volta dos 230km – 250km chegasse, porém passou os 250km de velejo e já eram, aproximadamente, 5 horas da